sexta-feira, 7 de maio de 2010

Vigiar e punir.

Resenha obra:" Vigiar e punir"; 3° parte, capítulo "Corpos dóceis" e "Os recursos para o bom adestramento"

No intuito de situarmos nossa fonte de estudo, vale ressaltar que a obra Vigiar e Punir foi escrita em 1975, após uma militância realizada pelo autor nas prisões de vários países, para entender a dinâmica do poder. Foucault é considerado crítico da crítica. Ele quebra a ordem cartesiana e desemboca na ética por meio da história. Ele vem nos mostrar as coisas que saem do foco, e assim desconstruir várias idéias impostas como certas, boas e únicas disseminadas ao longo do tempo.

.Foucault discorre na terceira parte do livro, sobre disciplina e obediência, enfatizando diferentes tipos de organização para alcançar os melhores resultados. Ele compara, no tempo, as metodologias educativas prevalecentes nos séculos XVII e XVIII. De um modo geral, Foucault examina quatro segmentos diferentes, que são estudados “nos mínimos detalhes”, como ele mesmo ressalta. O autor ainda afirma que, não existe poder único, mas práticas de poder no cotidiano, espalhadas por todas as estruturas sociais através de um conjunto de mecanismos, a disciplina.

Foucault estuda os mecanismos da disciplina como poder exercido sobre os corpos, corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cujas forças se multiplicam. O corpo se torna objeto e alvo de poder. O poder em todas as sociedades está ligado ao corpo. É sobre ele que se impõem as obrigações, as limitações e as proibições. Daí surge à noção de docilidade, o corpo dócil pode ser submetido, utilizado, transformado, aperfeiçoado em função do poder.

Partindo de tal pressuposto, a disciplina é um meio pelo qual se consegue ao mesmo tempo ordenar e tornar útil os indivíduos aos quais ela é imposta, para determinadas atividades, ou como ele se refere a essa idéia, “docilizar” e “adestrar” ou ainda “fabricar” tais indivíduos com determinado propósito. A distribuição dos indivíduos no espaço é o primeiro passo da disciplina. É preciso separar os corpos, mas torná-los visíveis para a observação.

Destarte, a disciplina é a técnica que fabrica indivíduos úteis e, tal técnica está na existência do ser humano na sociedade. Nesse sentido, a disciplina é necessária para a sociedade, o modelo de disciplina e, por que não dizer, de sociedade que precisa ser mudado

Os meios pelos quais se impõe a disciplina são: a vigilância hierárquica, a sanção normalizadora e o exame, e mais uma vez não é difícil contemporaneizar tais meios. Há, no entanto uma diferença notável. A de que a disciplina não vai funcionar nessas sociedades somente como um poder de coerção para a fabricação de indivíduos dóceis, mas um poder que se propõe fundamentalmente fabricar uma sociedade normalizada. O que vemos novamente é uma estreita ligação dessas relações, no que se observa que vivemos numa sociedade panóptica.

Na incerteza de está sendo vigiado ou não, o individuo permanecia disciplinado. Ao transpor esse modelo de disciplina para as sociedades atuais, percebemos que vivemos exatamente dentro de uma enorme prisão construída pelo poder disciplinador das leis, sendo que temos na “torre de controle” dessa sociedade os poderes coercitivos legais, formados pelos militares e pelo poder judiciário

Em termos de educação da época, são múltiplas e variadas as disciplinas impostas nos exércitos, nas escolas, nos conventos e nas fábricas. Mas, de um modo geral, o elemento básico visa à distribuição hierárquica dos indivíduos dentro do espaço social. Esse sistema é o quadriculamento, no qual cada um se define pelo lugar que ocupa na série.

O Controle das atividades Segundo Foucault, nesta época, baseava-se em cinco princípios fundamentais: 1. O horário, não só pela observância restrita das horas de entrada e saída, como também a utilização integral do tempo útil, ou seja, a proibição de que não haja distrações e perda de tempo, com interrupções que prejudiquem a continuidade do trabalho; 2. A elaboração temporal do ato, significando o ritmo coletivo e obrigatório; 3. O corpo e o gesto colocados em correlação, ou seja, o total controle das disciplinas para que nada fique ocioso ou inútil, objetivando o alcance das melhores condições de eficácia e rapidez; 4. A articulação corpo-objeto, com o sentido de disciplinar cada uma das posições que o corpo deve manter com o objeto que manipula; 5. A utilização exaustiva significando que é proibido perder tempo.

Como aduz o autor, o sucesso da disciplina precisa de pouco: olhar hierárquico, castigo normalizador e uma combinação que é especifica do castigo, o exame. Isso compõe o poder disciplinar e suas técnicas minuciosas, às vezes intimas, mas com considerável importância porque define certo modo de investimento político e detalhado do corpo, uma nova ‘microfísica’ do poder

Configura-se, dessa maneira, um axiológico questionamento sobre a liberdade e seus ditames, Foucault nos induz a uma reflexão existencialista acerca de nossas escolhas. Na verdade, me parece aqui, que o autor quer nos convidar a uma reflexão sob, até que ponto, somos de fato livres para deliberar sobre nosso umbigo. Será que nossa liberdade não sofre prévia e velada restrição? No que pese, vivermos na iminência perene de um poder disciplinar e coagidos por uma sociedade panoptica, maculando de vícios nossas vontades. Portanto, nossa realidade e visão de mundo não são produtos de uma valoração livre e imparcial. Mas dante, produtos da conjuntura político-social que a sociedade nos impõe. Estando em uma realidade “fabricada” e uma liberdade “moldada” por limites padrões que nos remetem a cidadãos normatizados, “docilizados".

Um comentário:

Unknown disse...

Post muito bom. Fazer à parte aqui seria levianeidade minha. Mais um pouco e temos um ótimo artigo científico. Despiu-se de algumas vaidades e fez um texto sóbrio, conciso, objetivo e bem fundamentado. RECOMENDADO A TODOS QUE ESTÃO INICIANDO A LEITURA DE FOUCAULT