sábado, 15 de maio de 2010

Falando de amor.


"Se eu pudesse por um dia
Esse amor, essa alegria
Eu te juro, te daria
Se pudesse esse amor todo dia
Chega perto, vem sem medo
Chega mais meu coração
Vem ouvir esse segredo
Escondido num choro canção
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro, teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor
Chora flauta, chora pinho
Choro eu o teu cantor
Chora manso, bem baixinho
Nesse choro falando de amor

Quando passas, tão bonita
Nessa rua banhada de sol
Minha alma segue aflita
E eu me esqueço até do futebol
Vem depressa, vem sem medo
Foi pra ti meu coração
Que eu guardei esse segredo
Escondido num choro canção
Lá no fundo do meu coração"

Tom Jobim.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Nietzsche: Extemporâneo, inconveniente e inoportuno.


É com enorme honra que o blog abre espaço para um de seus colaboradores intelectuais mais solicitados, presença perene nos comentários, sujeito ativo de acalorados e infindáveis debates, com a palavra; William Ramos.

Em homenagem as atuais discussões acerca do tão afamado e renomado filósofo alemão F. Nietzsche. Homenagens essas expressas no X SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA NIETZSCHE / DELEUZE: “NATUREZA / CULTURA”, que contará com grandes nomes do Brasil e do Mundo, em termos de Nietzsche e Deleuze, o qual ocorrerá aos dias 25/27 de Maio / 2010, na Universidade Federal do Pará.

Aproveito as circunstâncias para fazer um adendo e tecer as devidas parabenizações ao ilustre Professor, Doutor em Nietzsche, Henry Burnett; paraense, natural da cidade das mangueiras, dotado de uma capacidade ímpar de captar as melodias e as decodificá-las para nós, reles leigos, e aqui faço alusão a sua brilhante obra, o álbum “Para não magoar”.

Adentrando no universo Nietzscheano, irei me ater aos meios mais populares e simples de entender Nietzsche, quais sejam os filmes, inclusive brasileiros, refiro-me a “Quando Nietzsche Chorou” e, ao principal, “Dias de Nietzsche em Turim”. Restrinjo-me mais ousar a falar um pouco sobre cultura.

É complicado falar,ou tecer observações acerca de um filósofo que asseverava: “Há homens que já nascem póstumos. Eu não nasci para esta geração”. Suas idéias e ideais sempre estiveram à frente de seu tempo. O ser póstumo que se negava a ser classificado como o
homo medium”, que dizia “Não sou um homem, sou uma dinamite”.

E assim o foi! Em sua grandeza de espírito, singularidade de gosto e rigorosidade cultural, veio e implodiu ao que se denominava certo. “Porque até hoje convencionou-se chamar de certo o que é errado”.

O filósofo alemão dizia: “a minha estética baseia-se no que é ameno, sutil e clássico”. O clássico, sobretudo, no que dizia respeito ao mundo grego, a retomada do Dionisíaco, que representa o caos, a bebedeira, a lascívia, o que há de mais degradante e opróbrio no homem, pois essa, segundo o filosofo, é verdadeira natureza.

Ele orgulhava-se em afirmar peremptoriamente que não seguia o modelo padrão cultural daquela época. “O super-homem está além do bem e mal”. Cultura essa que predominava, e predomina, o estilo apolíneo, a luz, o modo e singularidade de pensar, o correto, o decente. Padrões esse que vivem em total discrepância com a natureza “animal” o voraz do homem, o que acabou descambando a uma hipocrisia. O falso moralismo!

Havia-se uma cultura maculada pela mentira, as mentiras que tornam a vida mais amena. Essas mentiras vem incorporadas nas religiões. Todas elas, mudando pouca coisa uma da outra, tendo em vista sua mesma fonte nascedouro, vem ratificar um padrão moral, estético e cultural, sempre usando o medo psicológico, quando não o físico, às pessoas. É indispensável que haja uma sanção para haver validade.

Pregam uma filosofia pífia, medíocre e leviana. Sempre ratificando a eterna repetição do ciclo vital. Isso faz o homem cair em um caos interno, uma luta constante de espírito, impelindo-o a seguir tais padrões. No entanto, ele tem que enfrentar ainda o conflito interno do dionisíaco com o apolíneo.

Dentre as religiões, e sempre elas, pois delas advêm o modelo hipócrita de cultura ocidental, o filósofo alemão, faz um a parte, quando ao Budismo, o qual, precede anos de estudos filosóficos, que culminam em combate ao sofrimento e não ao pecado, como as demais religiões.

É preciso uma implosão do homem ocidental. “Amo aqueles que se dedicam ao nascimento do super-homem”, e o super-homem mostra-se como o homem além do homem moderno, dotado de uma verdadeira cultura. “O que amo no homem é que ele é uma ponte e não uma meta”.

Faz-se necessário o eterno retorno, munir-se das ilusões e preceitos modernos como um camelo, caminha até o deserto, a solidão, lugar árduo, sim porque essa transição não será simples, daí começar a lutar destruir toda carga, todos os pensamentos tidos como certo, moralmente aprováveis. E só então, voltar, como um bebê, uma tabula branca, pronto a captar as sutilezas da verdadeira e mais alta e pura cultura, eis assim o super-homem.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Alô Dunga!


Vimos com a convocação, uma seleção burocrática, pragmática e conservadora. Bem a imagem de seu treinador, com a coerência de quem joga pelo resultado, olvidando que, futebol é uma arte!
Alô Dunga, assista jogos do Santos, não da Coréia do Norte!

domingo, 9 de maio de 2010

Em defesa da dignidade da pessoa humana.


Consagrada como fundamento da república federativa do Brasil, pela carta cidadã de 88 e, propalada aos quatro ventos no universo jurídico, a dignidade da pessoa humana, configura-se, na maior conquista da sociedade moderna, uma conquista da razão civilizadora, valendo-se, para tal, como principal escudo do indivíduo diante do Estado leviatã que pode se levantar em determinadas circunstâncias, e ainda orienta o cerne das relações inter-pessoais.
Embora possa a priori parecer, uma discussão vazia e sem importância, haja vista que, qualquer indivíduo dotado de bom senso, levará em consideração em suas argüições ou julgamentos a dignidade da pessoa humana. O uso indiscriminado da expressão, está maculando de vicios o seu valor, sendo por vezes, proposta inclusive no embate de idéias antagônicas, quase rebaixada a jargão jurídico, enfraquecendo a sua axiologia.
Tentarei pautar alguns parâmetros, para que se possa visualizar, os contornos da dignidade da pessoa humana.
Veja bem, no prisma jurídico, cabe ressaltar que, com previsão Constitucional no artigo 1°, sob o titulo I, dos princípios fundamentais, e não no título II, que dispõe sob os direitos e garantias fundamentais. Significando, portanto, segundo o prof. André Coelho que, a dignidade não é um direito, e sim, ao contrário, é o fundamento dos direitos ou, se se preferir, é o motivo pelo qual se tem direitos. Não se pode ter direito à dignidade, porque só faz sentido ter direito a certa coisa se essa coisa é do tipo que se pode ter ou não ter, que se pode conseguir ou perder, mas, se essa coisa é do tipo que está ligada a quem se é, se, não, importa o que se faça ou se deixa de fazer, jamais se deixa de tê-la, então a idéia de ter direito a ela não faz o menor sentido (seria comparável a ter o direito de ser um ser humano, ou o direito de ter um corpo etc.) Assim, independente da situação, não deixamos de possuir dignidade, o que pode acontecer e, infelizmente, acontece, é que a dignidade não seja respeitada, o que não a revoga em hipótese alguma a dignidade humana.
É indubitavel, a contribuição do filosofo Immanuel Kant, para a formulação do conceito moderno de dignidade da pessoa humana, para Kant, enquanto as coisas tem preço, as pessoas tem dignidade, sendo tal, a que nos diferenciava dos demais seres. Isto é, para Kant o que de fato, poderia colocar as pessoas acima das coisas e dos demais animais, era justamente a possibilidade de se orientar a partir de uma coisa chamada racionalidade prática, ou simplesmente razão. Dessa maneira, tornado-se, livres. Ensejando que, liberdade é fundada na autonomia da vontade, logo, tratar alguém de forma digna, consiste em não tratá-la como um mero meio para consecução de fins outros, mas tratá-la, como um fim em si mesmo. (enquanto coisas são meios, pessoas são fins). Concomitantemente a esses preceitos, o professor Komparato, lembra que, a expressão de desprezo, deve ser levada em consideração, quando se estiver discutido dignidade da pessoa humana.
Portanto, antes de sairmos por ai, evocando a dignidade da pessoa humana, estabeleçamos, em que termos nos referimos a ela, pois conforme a hermenêutica usada, ganha-se em retórica e, perde-se, em valor prático.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Vigiar e punir.

Resenha obra:" Vigiar e punir"; 3° parte, capítulo "Corpos dóceis" e "Os recursos para o bom adestramento"

No intuito de situarmos nossa fonte de estudo, vale ressaltar que a obra Vigiar e Punir foi escrita em 1975, após uma militância realizada pelo autor nas prisões de vários países, para entender a dinâmica do poder. Foucault é considerado crítico da crítica. Ele quebra a ordem cartesiana e desemboca na ética por meio da história. Ele vem nos mostrar as coisas que saem do foco, e assim desconstruir várias idéias impostas como certas, boas e únicas disseminadas ao longo do tempo.

.Foucault discorre na terceira parte do livro, sobre disciplina e obediência, enfatizando diferentes tipos de organização para alcançar os melhores resultados. Ele compara, no tempo, as metodologias educativas prevalecentes nos séculos XVII e XVIII. De um modo geral, Foucault examina quatro segmentos diferentes, que são estudados “nos mínimos detalhes”, como ele mesmo ressalta. O autor ainda afirma que, não existe poder único, mas práticas de poder no cotidiano, espalhadas por todas as estruturas sociais através de um conjunto de mecanismos, a disciplina.

Foucault estuda os mecanismos da disciplina como poder exercido sobre os corpos, corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cujas forças se multiplicam. O corpo se torna objeto e alvo de poder. O poder em todas as sociedades está ligado ao corpo. É sobre ele que se impõem as obrigações, as limitações e as proibições. Daí surge à noção de docilidade, o corpo dócil pode ser submetido, utilizado, transformado, aperfeiçoado em função do poder.

Partindo de tal pressuposto, a disciplina é um meio pelo qual se consegue ao mesmo tempo ordenar e tornar útil os indivíduos aos quais ela é imposta, para determinadas atividades, ou como ele se refere a essa idéia, “docilizar” e “adestrar” ou ainda “fabricar” tais indivíduos com determinado propósito. A distribuição dos indivíduos no espaço é o primeiro passo da disciplina. É preciso separar os corpos, mas torná-los visíveis para a observação.

Destarte, a disciplina é a técnica que fabrica indivíduos úteis e, tal técnica está na existência do ser humano na sociedade. Nesse sentido, a disciplina é necessária para a sociedade, o modelo de disciplina e, por que não dizer, de sociedade que precisa ser mudado

Os meios pelos quais se impõe a disciplina são: a vigilância hierárquica, a sanção normalizadora e o exame, e mais uma vez não é difícil contemporaneizar tais meios. Há, no entanto uma diferença notável. A de que a disciplina não vai funcionar nessas sociedades somente como um poder de coerção para a fabricação de indivíduos dóceis, mas um poder que se propõe fundamentalmente fabricar uma sociedade normalizada. O que vemos novamente é uma estreita ligação dessas relações, no que se observa que vivemos numa sociedade panóptica.

Na incerteza de está sendo vigiado ou não, o individuo permanecia disciplinado. Ao transpor esse modelo de disciplina para as sociedades atuais, percebemos que vivemos exatamente dentro de uma enorme prisão construída pelo poder disciplinador das leis, sendo que temos na “torre de controle” dessa sociedade os poderes coercitivos legais, formados pelos militares e pelo poder judiciário

Em termos de educação da época, são múltiplas e variadas as disciplinas impostas nos exércitos, nas escolas, nos conventos e nas fábricas. Mas, de um modo geral, o elemento básico visa à distribuição hierárquica dos indivíduos dentro do espaço social. Esse sistema é o quadriculamento, no qual cada um se define pelo lugar que ocupa na série.

O Controle das atividades Segundo Foucault, nesta época, baseava-se em cinco princípios fundamentais: 1. O horário, não só pela observância restrita das horas de entrada e saída, como também a utilização integral do tempo útil, ou seja, a proibição de que não haja distrações e perda de tempo, com interrupções que prejudiquem a continuidade do trabalho; 2. A elaboração temporal do ato, significando o ritmo coletivo e obrigatório; 3. O corpo e o gesto colocados em correlação, ou seja, o total controle das disciplinas para que nada fique ocioso ou inútil, objetivando o alcance das melhores condições de eficácia e rapidez; 4. A articulação corpo-objeto, com o sentido de disciplinar cada uma das posições que o corpo deve manter com o objeto que manipula; 5. A utilização exaustiva significando que é proibido perder tempo.

Como aduz o autor, o sucesso da disciplina precisa de pouco: olhar hierárquico, castigo normalizador e uma combinação que é especifica do castigo, o exame. Isso compõe o poder disciplinar e suas técnicas minuciosas, às vezes intimas, mas com considerável importância porque define certo modo de investimento político e detalhado do corpo, uma nova ‘microfísica’ do poder

Configura-se, dessa maneira, um axiológico questionamento sobre a liberdade e seus ditames, Foucault nos induz a uma reflexão existencialista acerca de nossas escolhas. Na verdade, me parece aqui, que o autor quer nos convidar a uma reflexão sob, até que ponto, somos de fato livres para deliberar sobre nosso umbigo. Será que nossa liberdade não sofre prévia e velada restrição? No que pese, vivermos na iminência perene de um poder disciplinar e coagidos por uma sociedade panoptica, maculando de vícios nossas vontades. Portanto, nossa realidade e visão de mundo não são produtos de uma valoração livre e imparcial. Mas dante, produtos da conjuntura político-social que a sociedade nos impõe. Estando em uma realidade “fabricada” e uma liberdade “moldada” por limites padrões que nos remetem a cidadãos normatizados, “docilizados".